Autor: Darci Garçon
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Acomodado. Esse é o adjetivo que define claramente a postura do profissional que está satisfeito com as benesses do seu emprego e se esquece de cuidar do próprio futuro. Esse desligamento é um comportamento comum, assumido por uns pela preguiça e não percebido por outros. Em ambos os casos, poderá acarretar vários inconvenientes, como impactar negativamente na carreira ou na busca de novas oportunidades no mercado de trabalho e, com certeza, também, na vida pessoal de qualquer cidadão.

Nessas duas situações, acredito que a as pessoas estejam tranquilas, satisfeitas com a qualidade de vida que estão desfrutando e, por isso, preferem permanecer no que chamamos de zona de conforto.

Essa postura pode ser ocasionada pela falta de percepção de que o tempo está passando e que nada de novo – conhecimento ou experiência – está sendo acrescentado ao seu cabedal. Ou pode referir-se à inércia, ou seja, à falta de disposição para adaptar-se às novas circunstâncias diante de um mundo que está mudando a toque de caixa. Em qualquer uma destas situações, fica claro que a pessoa deixa de ser o protagonista de sua carreira e de seu próprio futuro passando a ser um mero figurante.

E, pelo que nos é dado observar no dia a dia, situações como essas acontecem mais frequentemente com as pessoas que permanecem tempo demais nos seus empregos. Habituadas à rotina do seu dia-a-dia, o seu desempenho satisfazendo às expectativas do seu empregador, acomodam-se, deixando o tempo passar sem perceber o que acontece do lado de fora do seu ambiente de trabalho. Diante desse quadro, a nossa intenção neste artigo é provocar uma reflexão sobre o assunto, pois, zona de conforto, como já dissemos, é um mal desnecessário que precisa ser percebido e evitado permanentemente.

Sugiro ao leitor dar uma paradinha agora e gastar dois ou três minutos para refletir se está ou não na zona de conforto. Se a resposta for positiva, vejamos quais devem ser as preocupações dos que se dispõem a evitá-la ou abandoná-la.

Estabilidade e carreira

Estabilidade nos empregos acrescenta pontos positivos no currículo, é óbvio, mas até certo ponto. Trabalhar numa empresa por 20 ou 30 anos – excesso de estabilidade – limita as possibilidades de recolocação quando precisamos procurar outro emprego no mercado de trabalho. Assim como mudar de emprego muitas vezes, permanecendo dois anos ou menos em cada empresa – instabilidade – conta pontos contra.

Em geral, defendo a ideia que o tempo de permanência na mesma empresa deve girar em torno de 4 a 5 anos e, a partir daí, buscar novas oportunidades com o objetivo de crescer profissionalmente. E as mudanças devem estar previstas e programadas no planejamento da carreira.

Plano de carreira, numa empresa, deve proporcionar progressão hierárquica e salarial. Por sua vez, mudança planejada de emprego significa assumir em cada mudança, um cargo de nível superior com um acréscimo de 20 a 30% no salário. Mas estes não são os únicos benefícios que se deve buscar na mudança de emprego. Mudança planejada de emprego é importante porque proporcionará desafios diferentes, diversificará e aprofundará os conhecimentos na área de atuação, permitirá conhecimento de outros segmentos, familiarização com outras culturas e, também, ampliação do networking.

Obsolescência

Antiquado, arcaico, jurássico, certamente serão algumas das expressões ou imagens que poderão vir à mente de um entrevistador ao ler um currículo ou ao entrevistar profissional com muito tempo na mesma empresa e que não tenha registrado no seu currículo cursos de atualização, programas de treinamento, palestras e outros eventos culturais que tenham agregado valor aos seus conhecimentos e habilidades, fluência em algum idioma etc.

Isolamento

Várias pesquisas mostram que cerca de 80% das recolocações no mercado de trabalho são conseguidas por intermédio das redes de relacionamentos. Portanto, rede de relacionamento é alguma coisa que deve ser construída, preservada e ampliada permanentemente por meio de participação em diferentes tipos de eventos culturais, sociais, esportivos… Zona de conforto e permanência por muito tempo na mesma empresa, com certeza, não facilitarão o conhecimento de outras pessoas e consequente aumento do networking. Mas não é suficiente conhecer mais pessoas; é importante conquistar algo indispensável chamado reputação por meio de uma convivência saudável. Reputação se consegue pelas atitudes e pelo comportamento isento de vaidades, sem arrogância e grosserias.

Não custa chamar atenção para mais um detalhe curioso: ao deixar o emprego, a pessoa perde o sobrenome. E isto poderá complicar ainda mais a procura de emprego, mesmo que a rede de relacionamento seja expressiva. Então, se juntarmos má reputação com falta de sobrenome, as dificuldades serão ainda maiores.

Procrastinação

Deixar para amanhã o que pode ser feito hoje ou empurrar decisões com a “barriga” é outro inconveniente fecundado pela zona de conforto. Como dizia o músico Geraldo Vandré, “quem sabe faz a hora não espera acontecer” *

Mais um detalhe importante: a partir dos 40 anos de idade já é conveniente pensar num plano “b” e, porque não, em empreender, para transformar um futuro problema numa oportunidade. Apesar de alguns movimentos visando prestigiar os “talentos grisalhos”, testemunho que há dificuldades para conseguir recolocação a partir dos 50 anos de idade e, pelo que se tem notado, não me parece que as empresas estejam dispostas a contratar profissionais dessa geração, mesmo sabendo que eles têm experiência e valor a agregar. Por último, mais um lembrete: o desemprego ocasionará falta de ocupação e, consequentemente, o tempo ocioso. O tempo ocioso provocará o vazio existencial e este levará a problemas emocionais dentre eles, a depressão. E daí outros problemas como alcoolismo, uso de drogas, dependência de medicamentos, problemas familiares. E mais um, não menos importante, a falta de grana para pagar as despesas.

Finalizando, pergunto: e aí, vale a pena curtir a zona de conforto?

*Música Caminhando

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