Darci Garçon – headhunter
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A perspectiva de um futuro desemprego ou mesmo da aposentadoria – aos quais estamos sujeitos – deve ser objeto de preocupação de todos, independentemente da questão financeira que ambas as situações possam acarretar.

 

Jean Louis Cianni* chama de “vazio profissional” a inatividade não desejada. É a falta de ocupação provocada por desemprego inesperado ou pela aposentadoria. O seu significado está próximo do “vazio existencial”, como foi definido por Viktor Frankl**. Segundo Frankl, o vazio existencial provocado pela falta de ocupação útil do tempo, refere-se a falta de sentido na vida. Conceitualmente trata-se de uma condição mais ampla, porém, os seus efeitos podem ser similares aos do vazio profissional.

Não devemos generalizar afirmando que todas as pessoas desempregadas ou aposentadas estão sujeitas aos efeitos do vazio profissional. Há, por exemplo, os que se aposentam e, conscientemente, assumem a ociosidade como uma situação desejada e vivem perfeitamente bem durante e depois da transição da “gravata para o pijama”. Regra geral, estas pessoas já comemoraram mais de meio século de vida e, provavelmente, têm poupança que lhes permite entremear a ociosidade com programas prazerosos, como curtir a casa, os netos, viagens, hobbys.

Neste artigo nossa preocupação é com aqueles que não chegaram ainda a esse “mar de rosas” e que poderão enfrentar momentos difíceis, sem ter com o que se ocupar, com dificuldades para tocar a vida, de conviver bem com sua família, sem auferir rendimentos e tendo pela frente perspectivas pouco favoráveis.

Como Cianni nos lembra, as empresas não são apenas “um lugar onde se produzem bens e serviços. Nela, as pessoas se relacionam, se aproximam, convivem, falam, discutem, se amam ou se detestam”. É o local onde as horas passam sem que se deem conta de que isso está acontecendo; onde sonhos se concretizam ou frustram as pessoas; onde nos sentimos úteis, mesmo tendo que suportar líderes despreparados, arrogantes e autoritários; onde podemos ser reconhecidos por nossa competência e desempenho, ser promovidos, receber bônus e ser noticia no jornal interno da empresa. Em resumo, trabalhar numa empresa possibilita ter uma identidade profissional e esta é uma maneira de elevar nossa autoestima, muito importante para enfrentar os desafios da vida.

Antonio Vidal Filho, nos alerta para o fato de que “para as novas gerações o emprego não é algo desejado como antigamente. O trabalho tem assumido tantas formas que o velho emprego, chefe e local de trabalho não são, de longe, a opção mais desejada. No entanto, há parcela considerável de pessoas que apreciam e preferem o velho modelo”.

Vale considerar, também, o comentário de Vicenzo Lasalvia, expert em coaching:”muitos caem na armadilha de ter a atividade profissional como um fim em si, ignorando as outras dimensões da sua vida, dentre elas o convívio familiar, os relacionamentos externos, lazer, cuidados com a saúde, entre outros”.

A rotina: todas as manhãs saímos de casa com destino àquele lugar onde serviremos para alguma coisa, onde faremos coisas úteis, ajudaremos uns e seremos ajudados por outros. O dia será repleto de trabalho e cobranças. O tempo passará rapidamente mas logo estaremos em casa, cansados, vendo a família por alguns momentos, ansiosos para voltar para a cama… Assim se resume os dias atuais dos “colaboradores” : excesso de pressão e stress.

Sem emprego e sem esperança de encontrar outro ou não conseguindo identificar ocupação entre inúmeras possibilidades que existem fora do modelo clássico, estabelece-se o vazio profissional durante o qual tudo será complicado. Sensação de desamparo, isolamento, noites de insônia. Ao acordar de manhã, sem nenhum plano ou perspectiva, a primeira pergunta que virá à cabeça é: o que vou fazer hoje? Varrer a calçada, lavar o carro, passear com o cachorro, procurar os amigos…. Que amigos? Eles desapareceram. Depois que você deixou a empresa, agora sem sobrenome, ninguém mais o conhece. Um ou outro retorna a ligação ou responde ao seu e-mail. Ajuda? Nenhuma. Nem os melhores amigos dos bons tempos de empresa dão uma ligadinha para oferecer apoio ou conforto. O “capital social”, constituído durante anos, desapareceu…

Solitário, com o passar dos meses sem emprego, as coisas podem piorar, pois há possibilidade da pessoa se entregar à inatividade, o que poderá acarretar problemas de saúde. Além da insônia, dores de cabeça, alergias, tristeza e, pior de tudo, depressão, que tem como uma de suas causas a autoestima baixa ao sentir-se excluído, desprovido de valor e de reconhecimento. Daí o possível apelo ao álcool, ao abuso do tabagismo ou de drogas que trazem um ilusório conforto para enfrentar questões que não saem da cabeça: “o que fiz de errado?” “Por que tenho que passar por tudo isto” ? Assim tem início um processo de autodesvalorização que poderá exigir ajuda para ser superado.

No nosso dia a dia nos deparamos com pessoas nessa situação. Na maior parte dos casos, são pessoas com mais de 45 anos, com mais de 25 anos de atividade profissional, experiência, competência e saúde perfeitamente adequadas para continuar trabalhando. E o que acontece? Por que o mercado de trabalho clássico as tem rejeitado ? Por que estas pessoas mantém o velho modelo mental de empresa/emprego e não buscam outras alternativas de trabalho e ocupação ?

A bem da verdade, a experiência mostra que o mercado de trabalho não é totalmente avesso às pessoas que tenham 45 anos de idade, ou mais, dependendo do cargo a que se candidatam. Nessa faixa etária supõe-se que o profissional, nos empregos anteriores, ocupou cargos de liderança, gerência ou diretoria. Havendo semelhança entre nível do cargo e do salário com as vagas disponíveis, muitas empresas poderão aceitar estes profissionais porque eles têm background valioso, acumulado durante os anos de serviço e têm valor a agregar.

A partir dos cinquenta, a situação é mais complicada, ainda que estas pessoas apresentem todas as competências técnicas e pessoais exigidas pelos cargos disponíveis. Segundo Vidal, “profissionais de faixa etária avançada são requisitados para cargos de primeiro nível ou para cargos técnicos cujas competências e especializações não se encontram no mercado. São “moscas brancas”. Em passado recente, por exemplo, correções em programas do sistema financeiro, escritos em linguagem de informática em desuso ente os jovens, exigiu o retorno de veteranos. O mesmo ocorreu em outros segmentos, no caso, petróleo”.

Pensando bem, para cargos de nível médio as empresas têm dado preferência às pessoas mais jovens por apresentarem naturalmente melhores possibilidades de desenvolvimento e crescimento. E por acreditarem que elas estão mais distantes da zona de conforto…

Notem que até aqui não se está levando em conta que estamos passando por séria crise econômica e que o mercado de trabalho está sendo afetado duramente pela paralisia generalizada na vida das empresas empregadoras. Os índices de desemprego são alarmantes e a acreditar no que lemos e ouvimos diariamente, a situação tende não só piorar como demorar para retomar o equilíbrio.

E daí ? Como enfrentar esse tsunami ? Não será fácil. Como ensina Roberto Re***, a pessoa deverá tornar-se “líder de si mesmo”. Ou seja, deverá fazer prevalecer os seus atributos pessoais que, na minha opinião, são indispensáveis principalmente nesse momento da vida, dentre eles, a autoconsciência ou o conhecimento das próprias emoções, equilíbrio, força de vontade, pensamento positivo, otimismo, acreditar sempre afastando-se do pessimismo.

João Marcos Varella, especialista em resiliência, assegura que a “autoconfiança não pode ser perdida pois é fundamental para esses momentos de busca de emprego. A autoconfiança precisa ser alimentada pela autoestima o que se consegue convivendo com pessoas que lhe querem bem, que o admiram e confiam na sua competência”.

Como ouvinte de depoimentos de algumas pessoas que buscam emprego, acredito que o grande desafio é juntar e manter todos esses atributos, que serão importantes em todos os momentos, inclusive numa entrevista de emprego. O “caçador de talentos” experiente é especialista em leitura de emoções e nota, em poucos instantes, a turbulência emocional dos candidatos quando chegam para entrevista. Muitas vezes, tomados pela ansiedade, procuram tornar-se protagonistas e sobressair-se sobre os demais candidatos, geralmente de forma forçada e inadequada. O gasto dessa energia tende a ser negativo e a ansiedade descontrolada impressiona mal.

Como dissemos anteriormente, antes que a situação se complique durante o vazio profissional e a depressão pegue pesado, convém avaliar se é conveniente a busca de ajuda de um especialista em Terapia, Coaching ou Mentoring, que ajude a contornar os momentos difíceis e a manter a autoestima, transparência e otimismo, atributos convenientes em qualquer processo de seleção.

Fianlizando, Lasalvia sugere que, “como não se pode prever o futuro, as empresas deveriam agir preventivamente, em conjunto com os profissionais durante o desenvolvimento da carreira, facilitando o autoconhecimento e mostrando a importância de todas as dimensões da vida de tal forma que havendo demissão inesperada ou aposentadoria eles tenham um leque de opções para se adequar ao novo momento”.

* Jean Louis Cianni – A filosofia como remédio para o desemprego. Editora Best Seller
** Viktor Frankl – Em busca de sentido. Editora
*** Roberto Re – Líder de si mesmo
**** João Marcos Varella, Vicenzo Lasalvia, Antonio Vidal Filho, consultores em assuntos de RH 
e em Coaching

Darci Garçon
Revista T&D Inteligência Corporativa

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