Autor: Darci Garçon
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É de autoria do sociólogo italiano, Domenico De Masi,* a seguinte frase:  “Desde sempre, o ser humano esperou trabalhar o menos possível, cansar o menos possível, sofrer o menos possível. Tudo isso ainda não foi atingido, mas estamos no caminho certo”.  Você concorda com a primeira parte dessa frase?

Pense no idoso, no aposentado ou no profissional em transição de carreira. Pense também nos jovens que terminam os seus cursos superiores com a expectativa de conseguir logo um bom emprego, ganhar algum dinheiro, constituir família e crescer na vida. A dura realidade mostrará a eles que não  será fácil. Há escassês de empregos, portanto, particularmente os jovens, terão  de lutar muito para realizar  seus sonhos.

Como fica a cabeça dessas pessoas com o vazio que a vida lhes reserva, sem  ganhos, mas também sem ter com o que se ocupar?

Vejamos a história de um psicólogo que não pensa como De Masi. Viktor Frankl era um cidadão judeu que esteve recolhido num campo de concentração, por três anos, durante a Segunda Grande Guerra. A experiência que vivenciou e a observação de seus companheiros de infortúnio levaram-no a desenvolver uma variante da Psicoterapia que ele chamou  de Logoterapia, considerada como a “terceira variante da Psicoterapia”.

Segundo Frankl, nos campos de concentração nazistas, a taxa de suicídio era baixíssima, apesar das condições totalmente adversas em que se vivia. Sabe por que? Porque o que dava motivação e garra às pessoas – que estavam condenadas à morte – era a luta pela sobrevivência, e isto as motivava a suportar todo o sofrimento, desde o trabalho pesado, alimentação ruim e restrita e frio intenso, entre outras dificuldades. A luta pela sobrevivência dava sentido às suas vidas.

Sentido à vida, foi a essência dos estudos de  Frankl. Todo ser humano tem de dar sentido à sua vida. Traduzindo para o mais simples, ele queria dizer que as pessoas vivem por alguma razão e precisam ter com o que se ocupar, caso contrário, cairão no “vazio existencial”, um tipo de neurose que se manifesta, sobretudo, pelo tédio. Daí o aparecimento de doenças e vícios, como por exemplo, depressão,  alcoolismo, agressividade e até suicídios. Frankl concluiu que a busca de sentido para a vida se constitui na principal força motivadora, que aciona e dá razão de ser às pessoas. Assim, o seu modo de encarar a vida não tem nada a ver  com o de De Masi.

De Masi usa a expressão Ócio Criativo. Não importa o que isso significa, mas  poucas pessoas  suportarão levar a vida cochilando, vendo televisão, indo ao shopping ou a baladas, lavando carro, cortando grama, como rotina, para preencher o tempo. Acho mais provável que as pessoas prefiram levar a vida da forma como ele próprio exemplifica, negativamente: “trabalhando 10 a 12 horas por dia e, na sexta-feira, levando trabalho para distrair-se em casa, durante o fim de semana. No verão, da praia, pelo indefectível celular, ligam para o escritório para saber como andam as coisas”.

Uma das explicações que podemos dar para esse comportamento descrito por De Masi, é que as pessoas preferem evitar o que Frankl chamou de “neurose dominical”. Também porque não sabem fazer outra coisa, apesar de tantas atividades que podem ser desenvolvidas, principalmente, nos grandes centros. Dentre elas, atualizar-se, estudar,  cuidar da saúde, buscar ganhos extras.

Frankl considera que sentido à vida se dá de três formas: criando um trabalho ou praticando um ato; experimentando algo ou encontrando alguém; assumindo determinada atitude, diante do sofrimento inevitável.

A partir dessa definição de Frankl, pode-se criar inúmeras opções ou caminhos para manter-se ocupado, desenvolvendo ativades produtivas e úteis que valorizem a nossa existência. Apesar de estar beirando os 70 anos, “toco” a minha empresa,  faço parte de um grupo de estudos que se reune todas as segundas-feiras, faço parte de dois grupos informais, compostos por profissionais de Recursos Humanos, sou corredor que leva a sério a planilha de treinamento. E, sempre que posso, corro meias maratonas, em países diferentes, tendo sempre a preocupação de buscar informações sobre a história desses lugares a fim de tirar o máximo proveito  da viagem. E ainda sobra tempo…

Para complementar, não custa nada lembrar o óbvio e o que tudo mundo deveria saber: o conveniente é levar a vida conciliando adequadamente, trabalho e qualidade de vida. Manter-se permanentemente ocupado é a ordem, mas, sem correr o risco de, além de tornar-se ou permanecer um sedentário convicto, transformar-se num dinossauro, um despreparado, que não percebe as mudaças que ocorrrem no dia-a-dia e incompetente para enfrentar novos desafios. Excesso de apego ao trabalho pode deteriorar a carreira de qualquer um, transformando-o num incompetente para enfrentar outras oportunidades de trabalho

Há empresas que estimulam e oferecem possibilidades de desenvolvimento aos  coloboradores porque sabem que esse investimento significará retorno em forma de retenção, motivação, melhor desempenho, mais produtividade. Mas, nem todas são assim, por sovinice ou por simples ignorância. De qualquer forma, é preciso estar atento, atualizando-se, permanentemente, ainda que utilizando de recursos próprios.

“Vamos ter cada vez mais ócio”,  artigo na revista especial da Você S.A., intitulado
“10 gurus e suas lições sobre trabalho, emprego e sucesso”

*Formado em Pedagogia pela USP, Darci Garçon é head hunter, sócio-diretor da TAG Consultores trabalha há 40 anos em Recursos Humanos.

Categorias: Artigos

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