por Leandro Fernandes

Na semana passada, apenas alguns dias após o rebaixamento para a série B do Campeonato Brasileiro, o Corinthians anunciou o nome de Mano Menezes, famoso por seu perfil de recuperador, como novo técnico da equipe. Menezes treinou o Grêmio por dois anos e sete meses. Nesse período, o técnico venceu o Campeonato Brasileiro da série B, trazendo a equipe gaúcha de volta à divisão de elite, chegando à final da Copa Libertadores da América deste ano. Além disso, Mano também conquistou dois títulos gaúchos.

Em entrevistas à imprensa, o ex-jogador e agora diretor técnico do clube, Antônio Carlos Zago, revelou que as negociações para trazer o treinador foram iniciadas há dois meses, o que contrariou as declarações do presidente do clube, Andrés Sanchez, que antes do fim do campeonato afirmava ter interesse na permanência de Nelsinho Baptista.

Ou seja, mesmo antes de saber qual seria o destino do clube (permanecer na elite ou disputar a divisão de acesso) seus dirigentes já costuravam um plano B nos bastidores. O canalrh procurou dois headhunters para saber se a postura adotada pelo Corinthians foi correta do ponto de vista ético e estratégico e dentro das regras do jogo, é claro, fazendo um paralelo às práticas do  mundo corporativo.

Para Simon Franco, presidente da Simon Franco Recursos Humanos, o Corinthians agiu bem, estrategicamente falando. “A empresa (Corinthians) está entrando em outro mercado, que demanda outro tipo de estratégia e, conseqüentemente, outro tipo de liderança”, explica o headhunter. Segundo Simon, um profissional que gerencia uma empresa no azul, pode não ter o mesmo desempenho com uma que esteja no vermelho. Daí a justificativa da substituição.

Darci Garçon, sócio-diretor da TAG Consultores, partilha da mesma opinião de Franco. Para ele, a decisão de optar por um profissional com experiência nesse tipo de competição parece ser uma decisão acertada. “Trata-se de um gestor com boa estabilidade para a profissão, um histórico de vitórias que o recomendam e experiência em situações similares à que se encontra o Corinthians”.

Em relação à forma que a contratação foi conduzida – no meio do campeonato, enquanto o gestor da época (Nelsinho) lutava para tirar o time daquela situação periclitante – ambos os especialistas julgam a situação normal. “O que seria questionável é a ausência de um plano B”, diz Franco. “Um empresário não pode improvisar. Não pode ficar rezando e contar com a sorte. Ele tem que gerir o presente e o futuro, seja lá qual for esse futuro”. Segundo ele, essa é a atitude que qualquer líder minimamente qualificado teria tomado.

É o mesmo que diz Garçon. Para ele, a diretoria já previa que o técnico não evitaria o rebaixamento da equipe e se antecipou em identificar o profissional assumiria o desafio de trazer a empresa de volta ao topo. Ele ainda destaca que a decisão não denota uma postura errada do clube em relação ao atual gestor. “Assim como no futebol, nas empresas quando o executivo não consegue os resultados esperados são substituídos, sem clemência. Não se trata de justiça ou falta dela, mas sim de conveniência”, diz. “No mundo empresarial até há casos em que o executivo demitido faz a integração do seu sucessor”.

Questionamentos

Para Simon, a empresa em questão, apesar de adotar a melhor estratégia para a atual situação, não foi muito inteligente em relação ao nome escolhido para o cargo. Afinal, Mano Menezes dirigia o Grêmio, com quem o Corinthians disputou os últimos pontos que poderiam ter salvado o clube.

“Não se faz acordo oferecendo o posto de presidente ao concorrente que tem influência direta sobre a sua permanência no mercado”, frisa. “Quando a empresa faz isso, acaba dando margem para a desconfiança, o que é um erro”. Segundo ele, se o resultado da partida tivesse sido outro, a imagem da empresa e, principalmente, de seu gestor, estariam seriamente comprometidas.

Garçon concorda que se o Corinthians tivesse ganhado do Grêmio e anunciado Mano Menezes como técnico ao fim da competição, isso daria muito que falar. Entretanto, para ele os impactos não seriam os mesmos em se tratando do meio corporativo. “Obviamente, a empresa contratante faria essa admissão de maneira planejada, com mais tempo e com um plano de comunicação bem trabalhado”.

Por fim, Garçon alerta que é preciso ter cuidado. Segundo ele, muitas empresas se dão mal quando escolhem um “salvador da pátria”. “Vide o caso Pão de Açúcar, que acaba de demitir um desses. Essas pessoas são trazidas com a missão de tirar a empresa de situação delicada, virar a mesa ou dar a volta por cima”, explica. “Assim que admitidas, fazem uma revolução, principalmente trocando pessoas e, no final de dois anos, não dá certo e são desligadas deixando a empresa em situação ainda pior”.

Fonte CanalRH

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